sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Saudade (fantastico)

"Nalguma outra vida, devemos ter feito algo de muito grave para sentirmos tanta saudade.
Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um estalo, um murro, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói ter cólicas, cáries e pedra nos rins. Mas o que mais dói é a saudade.

Saudade de um familiar que mora longe. Saudade de uma recordaçao de infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra. Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade.Doem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Podes ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas cada um sabe onde o outro se encontra. Podes ir para o dentista e ele para o trabalho, mas continuam a saber onde cada um está.

Saudade é basicamente não saber.

Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer. Saudade é isso que senti enquanto escrevi, o mesmo que deves sentir agora depois de ler.

(Miguel Falabella)

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