Médico
quebra mitos sobre a saúde
Laranja é boa a qualquer hora do dia, café previne
demências e doenças do fígado e é inútil beber dois litros de água por dia.
Apenas algumas das falsas crenças sobre o que faz bem e faz mal arrasadas pela
investigação científica. Saiba mais.
Uma das vertentes do Programa Harvard Medical
School-Portugal, que resulta de uma parceria entre a Universidade
norte-americana e escolas de Medicina e laboratórios portugueses, é a
divulgação de informação na área da saúde relevante e validada cientificamente.
O médico Vaz Carneiro expõe a verdade por detrás dos mitos.
Exercício sem dieta não emagrece
Fazer exercício físico sem um programa alimentar
hipocalórico tem um "efeito negligenciável" em termos de perda de
peso, garante o diretor do Programa Harvard Medical School-Portugal. Em estudos
com adultos obesos que analisaram o efeito do exercício regular intenso e
moderado verificou-se uma perda de peso muito discreta (entre 0,6 e 4,8
quilogramas aos 8 meses). No entanto, a composição do corpo melhorou, com
diminuição do perímetro abdominal e das ancas. Ou seja, o exercício físico tem
vários efeitos muito benéficos, como melhorar a silhueta, substituindo a gordura
por massa muscular, e prevenir doenças cardiovasculares. Mas, para emagrecer, é
preciso que seja acompanhado de uma dieta hipocalórica.
Não usamos apenas 10% das nossas
funções cerebrais
Não se sabe a origem desta ideia nem como se chegou a
tal percentagem, mas disseminou-se a ponto de assumir o estatuto de factoide
científico, apesar de totalmente falha de sustentação. Se efetivamente só
usássemos 10% do nosso encéfalo, o que estariam os outros 90% a fazer? As
funções cerebrais são atividades complexas que implicam várias áreas e diversas
estruturas. A memória, por exemplo, não reside num determinado ponto. As mais
modernas técnicas de imagiologia demonstram que todo o cérebro está
permanentemente em atividade, embora certas áreas possam estar mais ativadas em
função da atividade que está a ser processada.
Comer laranja faz bem a qualquer hora
do dia
É um daqueles mitos veiculados por um provérbio:
"De manhã é oiro, à tarde prata e à noite mata". A crença de que o
efeito da laranja pode variar de acordo com a hora em que é ingerida não tem
qualquer fundamento científico. O médico António Vaz Carneiro garante que a
laranja faz bem a qualquer hora, a não ser que haja algum tipo de intolerância
e, nesse caso, prejudica a qualquer hora.
Tomar banho após refeição não
provoca afogamento
Quem não se lembra de ter de esperar três horas, sob o
sol inclemente da praia, para poder ir tomar banho? Tudo por causa do medo da
congestão e afogamento. Afinal, não há uma associação entre estar a fazer a
digestão e risco aumentado de afogamento. "Não parece haver qualquer
problema entre comer e ir para a água", explica Vaz Carneiro. Os casos de
afogamento podem explicar-se por diversos fatores - como não não se saber
nadar, a ação de certos medicamentos, hipotermia devido à água muito fria e
grandes diferenças entre a temperatura exterior e da água.
Beber dois litros de água por dia é
inútil
Esta popular recomendação é acompanhada de
justificações do género "temos de fazer funcionar os rins" e
"limpar o nosso organismo". A verdade, porém, é que a água é uma
daquelas substâncias que são estritamente reguladas pelo organismo: só se
aproveita a que se necessita. Portanto, a água ingerida deve ser a suficiente
para matar a sede. Mais: não só é inútil como pode ser perigoso, porque obriga
os rins a trabalhar em excesso.
Café previne diabetes, demências e
doenças do fígado
A má reputação de que o café goza, mesmo entre os
profissionais, é uma injustiça que Vaz Carneiro está apostado em combater.
Sendo uma das bebidas mais consumidas em todo o Mundo, foi objeto de 37 mil
estudos, nas últimos 30 anos. As conclusões podem surpreender. Diz o professor
da Faculdade de Medicina de Lisboa que os resultados "sugerem um efeito
protetor do café na incidência da diabetes mellitus tipo 2, demência (Alzheimer
ou não), doenças hepáticas (cirros e carcinoma hepatocelular) e doença de Parkinson".
Mais: não existem provas que liguem o café ao cancro ou a um aumento do risco
cardiovascular. Isto é válido para a população em geral e significa que os
efeitos positivos aumentam proporcionalmente à quantidade ingerida, garante.
Quem tiver sensibilidade aos componentes do café e ficar demasiado excitado com
esta bebida, deve evitar.
Grávidas devem vacinar-se contra a
gripe
É exatamente o contrário do que se diz. As grávidas
devem vacinar-se porque quando infetadas pelo vírus da influenza (gripe) apresentam
maior risco de complicações para a sua saúde e dos fetos. Sendo um grupo de
risco, a vacina afigura-se como uma prática recomendável, assegura Vaz
Carneiro, exceto em caso de alergia ou condição específica.
Suplementos vitamínicos
anti-oxidantes não evitam cancro
A ingestão de suplementos antioxidantes não tem
efeitos benéficos. "Se fizer uma dieta equilibrada não necessita destes
suplementos vitamínicos que, no mínimo, são inúteis e, no máximo,
prejudiciais", considera Vaz Carneiro. O reforço vitamínico para prevenção
de certas doenças também é um mito que a investigação não apoia. A vitamina A
não apresenta quaisquer benefícios na prevenção do cancro do cólon, do cancro
da mama e no cancro em geral, apresentando mesmo um risco mais elevado de cancro
do pulmão. Quanto à C, não existe evidência que previna o cancro ou doença
cardiovascular. E a vitamina D é ineficiente a prevenir o cancro, a patologia
cardíaca e a demência. Em resumo: é um mito sem sustentação, alimentado pela
fácil disponibilização destes produtos, e que pode constituir um perigo para a
saúde pública.
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