Prometemos que fazemos amanha, prometemos que não nos esquecemos. Prometemos que
vamos estudar e, quando não estudamos prometemos que não vamos chumbar.
Prometemos que nos vamos portar bem e que não volta a acontecer. Prometemos que
chegamos cedo, que vimos já. Prometemos que temos juízo, que nos portamos bem.
Prometemos que para a próxima vai ser diferente. Prometemos que guardamos
segredo, que não contamos a ninguém. Prometemos que desta vez é diferente.
Prometemos que vamos mudar. Prometemos que agora é para sempre, que não vamos a
lado nenhum.
Se desta vez doeu mais, não foi por não estar preparada, não
foi por não ter adivinhado logo de inicio este desfecho. Se desta vez doeu mais
foi porque no meio de todos os acontecimentos conseguiste baralhar me os
sentidos. Desta vez fizeste-me esquecer as bases.
Não te culpo pelas
promessas não cumpridas, nem em nenhum momento fui menos feliz contigo por tal.
Preencheste cada espaço do meu ser.
Foste ar. Foste chão. Foste
abrigo.
Conseguiste escapar sempre às palavras traiçoeiras, as
promessas que fizeste não me iludiram, não foram elas que me viraram do avesso.
Foste tu, na tua entrega pura. No teu sorriso fácil. Fui me esquecendo, no meio
da caminhada, de onde vínhamos. E, mais grave ainda, esqueci-me por completo
para onde íamos. Tínhamos um plano, traçado desde o primeiro dia. Soube desde
sempre ao que vinhas. Nunca me iludiste com palavras mansas, nunca me encheste
de promessas vazias. Em nenhuma altura te amei pelas tuas mentiras. Essas,
sempre as soube distinguir. Escolhi deixar te brincar no meu fogo. Escolhi não
te queimar.
Se desta vez doeu mais foi porque em algum momento vago decidi
desatar as amarras que me prendiam ao chão. Desta vez decidi desancorar os
sentidos. Desta vez decidi perder-me, achar-me em ti.
Não foram as tuas
falsas promessas, não foram as tuas mentiras, não me iludi, não me deixei levar.
Não te culpo. Não foi por engano. Soube desde sempre o nosso fim. Se escolhi o
esquecer foi porque a determinado momento me perdi, não nas tuas promessas.
Perdi-me nos teus silêncios. Nos teus olhos puros. Perdi-me nos teus braços
fortes. Nos teus abraços esmagadores.
Hoje dói tanto como ontem, mas hoje não
te tenho aqui, hoje não te vejo, nem te ouço, hoje não tenho nada pelo que me
perder. Hoje volto a atar as amarras, uma a uma. Hoje volto a ancorar os
sentidos ao chão. Hoje, estou só e, recupero um pouco de mim.
Não te
culpo, só te peço que me devolvas o coração.
Eu junto os pedaços.
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